Literalidade no Autismo

Pessoas com autismo têm dificuldade em compreender metáforas (figuras de linguagem) mesmo que apresentem linguagem expressiva e boa comunicação. Isso se dá porque tanto as habilidades verbais como as não verbais sofrem prejuízos quando em situações sociais. Nas vivências cotidianas certas expressões podem ser aprendidas, e com as repetições, principalmente se inseridas nos interesses do indivíduo, cria-se previsibilidade, mas a compreensão e a mente do autista segue com a tendência a ser literal. Portanto, não é de se espantar que a criança ou o adulto no espectro fique muito surpreso ou assustado com frases como “estou morrendo de dor de cabeça” ou “seu cabelo vai cair todo se você não parar de pintar”. Ou que a pessoa no espectro responda a uma pergunta retórica – que é quando quem faz a pergunta já sabe a resposta e na verdade só a faz para afirmar o que perguntou, ou para negar. Percebe como é complexo saber quando é para responder, quando não e o que diferencia uma situação da outra?
As ironias também entram na dificuldade de compreensão e até o ato de decifrar charges e ilustrações.
Quando eu era criança, meu pai usava 2 frases que me deixavam confusa e irritada. Eram elas: “vai procurar a sua turma” ou “não me amole”. Ele falava rindo, quando eu insistia nas mesmas brincadeiras que me faziam rir por horas, como colocar grampos de roupas nas orelhas dele ou puxá-las e ele colocar a língua para fora simultaneamente, porém eu ficava pensando que se eu não era da Turma da Mônica, não havia outra turma que eu pudesse procurar (era a minha referência de turma na época). Amolar era ainda pior. Eu imaginava aqueles alicates de manicure que a minha mãe, muito vaidosa, tinha sempre um à mão e levava para amolar de vez em quando.
Como é que uma pessoa poderia ser amolada como um alicate?😳
Com o passar do tempo me acostumei, me explicaram que amolar era o mesmo que incomodar, que procurar a minha turma seria ir brincar com os meus brinquedos, mudar de atividade, e outras dificuldades surgiram, mas vida é adaptação, não é? E sabendo disso tudo, há alguns dias pedimos para o Vinícius fazer “xis” ao posar para a foto do aniversário de 5 anos. Adivinha o que ele fez?
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